Breno estava indignado com o que via. Revoltado, eu diria. Enquanto seu pai, César, tentava explicar que as coisas tinham que seguir seu curso e que eles não deveriam interferir nas decisões dos outros, ele chorava e batia o pé. Queria por que queria aquele pontinho pra ele. Ele falou que seria o rei dos reis, caso concertasse aquele povo. Foi aí que César percebeu que já estava atrasado para o trabalho. Deu um beijo na testa do filho e pediu para que ele fosse contar a sua irmãzinha o que havia aprendido com ele naquela tarde. Breno feliz foi contar as novidades para Júlia, sua irmã.
Júlia estava brincando com uma pequena boneca de pano, presente do natal passado. Aliás, seu primeiro natal em família, já que teve que passar o primeiro em um hospital. Ela era uma criancinha de pele clara e olhos profundos, pretos, que faziam uma combinação harmoniosa com a cor do seu cabelo que seguia até próximo ao queixo.
Breno chegou entusiasmado próximo de Júlia, e começou a conversar com a mesma. Ou melhor, começou a dialogar com os olhinhos da pequena Ju.
"Sabe Ju, hoje o papai me mostrou um pequeno planetinha. Acredita que os habitantes são tão ignorantes a ponto de chamá-lo de Terra, sendo que a maior parte de sua constituição é água?" Júlia sequer deveria entender o que seu irmão estava tentando falar, mas continuou a encará-lo. "Mas pense só, eles ainda acham que são os únicos a existirem em meio esta vasta criação." Continuou Breno. "Ora, ora. Alguns tentaram sair dessa prisão de paredes transparentes em que a maioria vivem, mas foram condenados à morte. Será que uma outra vida será suficiente para expandir todo o conhecimento desses raros? Espero que sim. A verdade é impactante, minha pequena. Imagina só para um povo que viveu sempre dentro de uma caverna escura ir de uma hora para a outra a um céu aberto, sem nuvens e em pleno verão... Eles com certeza ficariam cegos. Mas não aqueles cegos que estamos acostumados, sabe?! Ser cego não é ter a visão limitada por meio dos órgãos que deveriam o fazer. É se privar de enchergar. Não querer sentir, não aceitar. Você está me entendendo, Júlia?"
Júlia continuava a olhar para ele. Imóvel. Até que falou: "Macaco!"
"Muito bem, muito bem! Vamos imaginar um planeta dominado por macacos. Só que.. Macacos não querem bananas, querem ouro, prata, riquezas. Macacos não querem amor, querem lucro. Macacos não gostam de florestas, árvores e da natureza em si. Esses macacos querem construções gigantescas, umas caindo sobre as outras. Acho que isso simboliza bem a mentalidade deles, querer estar sempre acima de tudo e de todos. Como isso é possível? Ah, eu também queria saber... São os mesmos, sim, eles são da mesma família. Eles não se importam, Ju. É uma coisinha chamada dinheiro que eles amam. Eles honram isso mais que qualquer coisa. Não andam mais sobre duas patas, andam sobre quatro rodas. Sabe, acho que eles sentem inveja dos elefantes... para onde eu olho vejo canhões apontados, prontos para guerras. Eles construíram muita coisa, mas não sabem aproveitar. Macaco não quer banana..."